Vozes Populares | Em Pernambuco, Coletivo Cores luta por emprego e moradia para pessoas trans

Presidenta do coletivo, Alzyr Brasileiro, tece críticas quanto a interiorização das políticas públicas no estado

Júlia Vasconcelos

Desde o começo do projeto em Petrolina (PE), 19 pessoas trans conseguiram um lugar no mercado de trabalho – Foto: Agência Brasil

Precisamos fazer a descentralização e pedir mais atenção à população LGBTQIA+ no interior de PE

Quem acompanha o reality show Big Brother Brasil, da rede TV Globo, provavelmente viu a cena em que a Linn da Quebrada, cantora e travesti, precisou reforçar em rede nacional a importância de respeitar a sua identidade de gênero. Mesmo com uma tatuagem escrito “ela” na testa, nem o direito básico de ter seu pronome respeitado é uma realidade. E para além do nome, a população trans no Brasil enfrenta uma série de outras ações transfóbicas, como, por exemplo, a dificuldade de inserção no mercado de trabalho.

No sertão de Pernambuco, na cidade de Petrolina, esse também é um grande desafio. Alzyr Brasileiro, presidenta do coletivo Cores, aponta duas grandes necessidades da população trans na região: apoio psicológico e emprego. “Muitas pessoas trans estão querendo mudar as suas realidades, trabalhar no mercado formal, sair da prostituição”, enfatiza. No entanto, poucas são as empresas que querem abrir as portas para essas pessoas.

Leia aqui: Histórias por trás de um mercado de trabalho que se fecha para pessoas LGBT+

Desde 2019, o Cores atua na defesa da cidadania e do orgulho LGBTQIA+, oferecendo diversos serviços gratuitos, como apoio jurídico, psicológico, social e cultural. Para atuar no tema do trabalho, o coletivo pensou no projeto “Empregabilidade em Cores”. Nele, voluntários oferecem cursos gratuitos para preparar essas pessoas para o mercado de trabalho. Durante as aulas, os temas são focados em processos seletivos: como fazer um bom currículo, como se sair bem em uma entrevista de emprego, como usar o Pacote Office e até mesmo como controlar as emoções.


Aulas do curso são voltadas para temas preparatórios para adentrar o mercado e são ministradas por voluntários / Foto: Arquivo Pessoal/Coletivo Cores

De 2021 até janeiro de 2022, 32 pessoas LGBTQIA+ conseguiram passar em processos seletivos, sendo 19 delas pessoas trans. Para Alzyr, o número é significativo e representa um espaço que está sendo aberto para pessoas trans mostrarem suas potencialidades.

O trabalho faz parte também de uma tentativa de tirar a população trans do interior de Pernambuco do alvo da violência. Alzyr faz uma crítica quanto a atuação do poder público no estado. Segundo ela, as políticas até existem. Como exemplo, há o Centro de Referência LGBT, no Recife; o Hospital das Clínicas, também na capital, que faz cirurgias de redesignação sexual; e o Ambulatório Trans, na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). “O índice de violência aqui, principalmente no sertão, é bem maior. Então nós precisamos fazer a descentralização e pedir mais atenção à população LGBTQIA+ no interior de Pernambuco”, defende Alzyr.

Além do Empregabilidade em Cores, existem outros projetos, como a Casa Cores, um espaço que está sendo construído através de doações para servir de acolhimento para pessoas LGBTQIA+, principalmente trans. Para saber como apoiar, acesse aqui o site.

No mês de visibilidade trans, Alzyr propõe uma reflexão sobre oportunidades e respeito. “Com respeito não existe transfobia. Com respeito não existe morte. Deixem-nos viver, deixem-nos amar e parem de nos matar”, finaliza.

Para ouvir o programete na íntegra, ouça o áudio anexado no início da matéria. O Vozes Populares é um programete semanal gravado com média de 5 minutos de duração e pauta e traz as vozes dos movimentos, coletivos e organizações populares. Confira outras edições em nosso site. 

Edição: Vanessa Gonzaga

Matéria originalmente publicada em: https://www.brasildefatope.com.br/2022/01/27/vozes-populares-em-pernambuco-coletivo-cores-luta-por-emprego-e-moradia-para-pessoas-trans

 

Rildo Veras

Rildo Veras

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